UFRRJ recebe Boubacar Boris Diop

por Douglas Maços

Ruanda é um país da África marcado por conflitos étnicos entre os nativos tutsis e hutus. Apesar de possuírem uma série de semelhanças, eles se odeiam desde a derrota da Alemanha na primeira guerra mundial em 1916 e a ascensão do imperialismo belga ao poder. O maior marco da briga entre as duas etnias foi o genocídio ocorrido em 1994 onde tutsis, grupo de oposição na época, foram perseguidos e mortos pelo grupo da posição, os hutus.


Uma das pessoas que documentaram os efeitos dessa guerra civil foi o escritor senegalês Boubacar Boris Diop que no dia 9 de agosto proferiu uma palestra com o tema “O jornalista e o escritor diante dos fatos históricos” na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) contando sobre o seu trabalho em Ruanda.


Segundo o escritor, ele e um grupo de nove autores foram para aquele país africano em 1998 através do projeto “Ruanda, por escrito para que não esqueçamos”. Cada integrante deveria publicar um livro sobre o genocídio ocorrido no país, mas ignorado pela imprensa internacional.


Para a Boubacar Diop, houve dois motivos para que a imprensa fechasse os olhos para a tragédia ruandesa: “Primeiro porque Ruanda fica na África e a morte de mais de 10 mil pessoas neste continente para a imprensa internacional seria normal. Segundo, porque na época estava acontecendo a copa do mundo de futebol nos Estados Unidos. Para os meios de comunicação este evento era mais importante de ser noticiado do que um genocídio na África”, explica o escritor.


Diop contou que partiu para Ruanda com o objetivo de ser um escritor, mas lá se comportou com um jornalista e passou a atuar nas duas funções. Isso para ele não foi problema, pois considera que essas funções são semelhantes e andam juntas. Segundo Diop, em Ruanda ele se tornou um jornalista porque teve que aprender a ouvir as pessoas, teve que entrevistar os cidadãos para relatar os prejuízos do genocídio e teve que aprender a não se envolver emocionalmente com as mazelas que afetavam as pessoas daquela localidade. Ele contou que foi difícil não se envolver com tudo o que estava ouvindo e vendo, mas ele precisava tomar uma certa distância para não comprometer o trabalho.


Mesmo com tanta determinação, ele admitiu que, após a experiência em Ruanda, mudou os temas que abordava nos seus textos e a forma de escrever. O escritor passou a ser um dos grandes defensores da população africana e da causa negra. Hoje após escrever seis romances, três pecas de teatro e dezenas de novelas e ensaios, ele é colunista do jornal francês Le Monde Diplomatique, sempre abordando as questões raciais e demais assuntos políticos.


A palestra no ICHS (Instituto de Ciências Humanas e Sociais) da UFRRJ foi uma parceria entre os cursos de pós-graduação em História e os curso de graduação e Comunicação social, Ciências Sociais e Relações Internacionais. Todos que participaram do evento conseguiram perceber através das palavras de Diop que seu trabalho foi importante para Ruanda e para o próprio escritor, tendo resultado em uma grande mudança na vida dele.

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